domingo, 21 de fevereiro de 2021

Futebolista Geraldes em projeto apoiado pelo Plano Nacional de Leitura

 Geraldes, o futebolista que quer convencer os jovens a ler: “Quando fecho um livro não sou a pessoa que era quando o abri”.

Aos 25 anos, este admirador de Saramago, jogador do Rio Ave formado no Sporting, protagoniza um novo projeto apoiado pelo Plano Nacional de Leitura. Há muito que fez dos livros uma companhia, até nos estágios
Enquanto os companheiros de equipa se entretêm com videojogos, Francisco Geraldes prefere ler um livro. Desde as camadas jovens que o agora médio do Rio Ave, formado no Sporting, encontrou nos livros a melhor companhia para os tempos livros, destoando dos futebolistas com quem tem vindo a partilhar o balneário, nos dois clubes já referidos e também no Moreirense, nos gregos do AEK de Atenas e nas seleções nacionais jovens.

Agora, aos 25 anos, o Rio Ave desafiou-o a tornar-se embaixador de uma iniciativa promovida pelo clube de Vila do Conde que recebeu o apoio do Plano Nacional de Leitura: cativar os mais novos para as palavras escritas. Sem uma periodicidade rígida, mas que não fugirá muito a uma vez por mês, Geraldes vai protagonizar um pequeno vídeo com sugestões de leitura, “principalmente de livros simples e fáceis de ler”. A ideia é apresentar escolhas que possam seduzir o maior número de pessoas, porque “muita gente acha que ler é uma seca”.

Não é o caso deste jogador de futebol contracorrente, que não hesitou em dar corpo ao projeto “As Leituras do Francisco”, a nova rubrica que estará sempre disponível na página de internet do Rio Ave e nas plataformas de divulgação do Plano Nacional de Leitura. O primeiro episódio, filmado na Casa Museu José Régio, em Vila do Conde, já está “no ar”, e o principal destaque foi “O Principezinho”, famosa obra de Antoine de Saint-Exupéry. O próximo será “Ratos e Homens”, de John Steinbeck, e voltará a ser gravado, como todos os restantes, num espaço ligado às artes desta terra de pescadores.

O objetivo de “As Leituras do Francisco” passa por alimentar uma “consciência da importância da leitura”, bem expressa no tipo de relação que se estabelece com o livro e o seu autor. “Ainda que ele não saiba, é um momento em que estou só eu e ele e nada me é imposto”, reflete Geraldes. “Enquanto num filme as ideias e as imagens já estão criadas, com os livros sou eu que crio a minha visualização daquilo que está a acontecer. É um estímulo à criatividade. Quando fecho um livro, não sou a mesma pessoa que era quando o abri.”

Se as suas sugestões tiverem nos outros o efeito que teve nele “O Alquimista”, de Paulo Coelho, esse seria o epílogo perfeito. “Foi como que uma descoberta de um mundo novo e de coisas interiores que são difíceis de explicar mas que as levo para a vida”, enfatiza o futebolista, sobre a obra que lhe despertou o hábito de levar sempre um livro para os estágios de preparação dos jogos, ainda na adolescência. Quando se deslocava de transportes públicos em Lisboa, os livros acompanhavam-no também a caminho dos treinos. “Muita a gente ia a ouvir música, eu ia a ler.” Ficou célebre uma fotografia de Francisco Geraldes a ler de pé no metro de Lisboa, captada por um adepto após um Sporting-Boavista em Alvalade. Mais tarde, foi apanhado a ler “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago, no banco de suplentes, horas antes de um jogo.

O Nobel da Literatura está entre os seus escritores preferidos, ao lado de George Orwell, Henry David Thoreau, Valter Hugo-Mãe ou Fernando Pessoa, sobretudo no pseudónimo de Álvaro de Campos. Mas neste momento é Clarisse Lispector, com o seu “Perto do Coração Selvagem”, que lhe dá a volta à cabeça. A ponto de ameaçar “1984”, de Orwell, e “Ensaio Sobre a Cegueira”, de Saramago, no topo do seu ranking pessoal. “Quando o acabar, acho que vai ser o meu preferido”, suspeita quem já perdeu a conta aos livros que leu.

E qual o que mais gosta sobre futebol? “Que me lembre não li nenhum”, responde, desarmante. O mais perto que esteve do desporto foram os livros sobre duas lendas do boxe, Muhammad Ali e Rubin Carter, mas porque são histórias que envolvem discriminação racial, um tema que lhe “interessa muito”, embora nos tempos mais recentes esteja mais propenso à filosofia e à poesia. “Já fui mais de policiais, agora leio mais coisas que me ponham em introspeção, que me façam questionar mais principalmente o sentido da vida.”

Não admira que os companheiros de equipa o tenham habituado, ao longo dos anos, a brincadeiras relacionadas com esta paixão pelas palavras. “Agora, no Rio Ave, o Pelé está sempre a meter-se comigo”, exemplifica, divertido: “Diz que eu não leio, que ando com os livros só para fingir.” É hora de começar a ver “As Leituras do Francisco”, Pelé…

                                                                                     in "Revista Visão"

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